Para que não se transformem em um conjunto de números aleatórios, dados devem ser traduzidos em informações e colocados a serviço das pessoas no dia a dia
Por Luciano Mantelli*
A ciência de dados invadiu o mercado nos últimos anos como um tsunami: primeiro, alguns empreendimentos perceberam e surfaram as primeiras ondas esparsas. Só que nem todo mundo esperava a potência que o fenômeno ganharia - e hoje só se fala em gestão por dados no mercado.
Claro que isso é positivo. Afinal, com tanta tecnologia coletando números sobre tudo o que é relevante em um negócio, os dados têm potencial para ganhar papel de destaque em qualquer empresa.
Então por que não está rolando na tua?
Para começar a responder essa questão, selecionei alguns… hum… dados. A formação de cientistas de dados, por exemplo, ganhou corpo em 2020 quando a Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, abriu a primeira turma de graduação na área no País. Em menos de um ano, o número de matriculados cresceu 150%. A grade curricular é puxada: linguagem Python, noções profundas em machine learning e inteligência artificial são alguns dos campos de estudo.
Até aqui tudo bem. Pelo menos para quem já tem alguma intimidade com a TI.
Porém, o que representa para as pessoas da sua equipe toda a avalanche de dados que enche os sistemas diariamente?
É... a gente precisa transformar os dados em informações que sejam compreendidas por todas as pessoas da equipe. A boa notícia é que a ciência de dados pode sim ser simples e prática, permeando o dia a dia do seu time e apoiando a tomada de decisão em todos os níveis, sempre com foco em garantir o valor de cada entrega. E não ser só um monte de números que alguém vai usar em um relatório numa reunião pra justificar alguma ação que deu - ou não - certo.
Pra isso acontecer, é fundamental aproximar a TI do dia a dia das pessoas. Antes de compartilhar com a equipe, os dados precisam ser desembalados dessa visão técnica que começa, como vimos, lá na graduação. Eles precisam contar uma história que faça sentido pra quem ouve. Isso é importante para que sejam, de fato, utilizados na prática diária. Afinal, a razão pela qual os dados se tornaram um importante ativo para os negócios é que eles empoderam as pessoas para a tomada de decisões. Só que não vale empoderar só meia dúzia de pessoas. Pra valer, tem de empoderar a galera.
Pode parecer conversa de engajamento e gestão de pessoas. Mas não é. A digitalização dos negócios mostrou à gestão o quanto as pessoas necessitam de informações a todo momento. E o motivo é bem claro: o comportamento de consumo varia de acordo com as mudanças culturais e elas também acontecem dentro das empresas. Afinal, não importa qual segmento é o do teu negócio, no final das contas ele atende às demandas pessoais. Negócios são feitos por pessoas que trabalham em prol de outras e do mundo. Simples.
A ciência de dados atualmente capta os padrões para modelar o negócio. O fluxo que precisa ser considerado é usar os dados para mudar o comportamento das pessoas dentro do negócio. E essa transformação só acontece de forma orgânica e natural se todos entendem o que está acontecendo no mercado e como podem agir para entregar valor ao mundo por meio do que fazem.
E agora sim nosso papo converge para o engajamento: pouco ou quase nenhum efeito você terá se apenas jogar os dados para o seu time. Aplique uma função inversa, transforme-os em informações compreensíveis para a realidade de cada equipe. Crie uma comunidade de pessoas empoderadas e, por meio dos dados, capacitadas a tomarem as decisões mais assertivas.
Outro ponto importante nessa discussão é entender que o uso de dados passa por mudar a cultura. Tradicionalmente as pessoas não são orientadas quanto ao uso de dados para fazer gestão e ter um olhar mais tático no dia a dia. A cultura atual pensa assim:o dado é algo pra analisar, é o resultado de algo que já passou. A gente precisa trazer os dados para a prática, ou seja, construir a visão de que eles estão nas coisas que a gente faz no dia a dia. Tudo bem, é importante olhar para o que já passou e, assim, entender como se comporta o cotidiano. Porém, é igualmente válido e necessário olhar, ao mesmo tempo, para o agora, para a tomada de decisão, para o que não podemos deixar passar naquele momento.
Afinal, tomar decisões não diz respeito só à estratégia. É, também, uma atitude orientada para garantir que a entrega aconteça, que o resultado seja alcançado, que clientes tenham uma boa experiência. A tomada de decisão, por conta disso, assume um tom mais tático. Dessa forma, as pessoas precisam começar a conviver com dados, mesmo que, no começo, não entendam o que isso pode mudar no cotidiano. Só que, como estamos falando de cultura, é impossível implantar uma sem que as pessoas não convivam com ela.
Te garanto que, quando compreender essa estratégia e construir essa cultura por aí, tu vai saber jogar com os dados - e gostar muito disso.
*Luciano Luis Mantelli nasceu no berço da agricultura familiar do Rio Grande do Sul, é pai, esposo, multiempreendedor e hacker. Atua em três frentes de negócio: a FOURGE, onde hackeia modelos de gestão, a Zhero, especializada em colocar a ciência de dados no centro dos negócios, e a Escola Hub, com foco em educar crianças para melhorar o mundo.
Leia também: Gestão para resultados é menos sobre cantar números e mais sobre envolver pessoas Descrição da imagem: pessoa jogando alguns dados para o ar. #gestaodainformacao
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