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Futuro desejável - ou por que a Saúde precisa do seu iPhone

Atualizado: 5 de nov. de 2021

O setor de Saúde está construído em bases insustentáveis. Para mudar o futuro do setor e dos players, é preciso uma reconstrução total

Em 2006 a Nokia, então uma das líderes do mercado de telefonia móvel, perguntou aos seus consumidores o que eles desejavam em um novo celular. Ela recebeu três respostas: melhorar a duração da bateria - que naquela época chegava a até seis inacreditáveis dias -, diminuir o aparelho e ter mais qualidade de sinal e de rede. Em 2007, pouco mais de um ano depois do lançamento que atendia a todos esses requisitos, um cara subiu em um palco de um evento de tecnologia e disse que o dispositivo que ele mostrava ali trazia uma nova forma de as pessoas gerenciarem suas vidas. O nome do executivo? Steve Jobs. E o iPhone se tornou, então, o futuro desejável de boa parte da população mundial. Mais que isso, ele construiu uma plataforma de soluções que tornou o dia a dia das pessoas mais simples e foi adotada massivamente pelo segmento, transformando-o de forma disruptiva.

O conceito de "futuros desejáveis" é difundido no mundo todo e tem como objetivo desenvolver metodologias e discussões que suscitem modelos disruptivos de negócios, sociedade e estilo de vida. Tem bases fundamentadas em uma poderosa frase de Peter Drucker, professor, escritor filósofo e pai da administração moderna: "a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo". No Brasil, a futurista Lala Deheinzelin é uma das principais especialistas do conceito e garante: “ao falar sobre futuro, já estamos começando a criá-lo”. Ela faz a todos uma pergunta provocadora:

“Se tudo fosse possível, que futuro você desejaria?”

Eu mudo essa pergunta para “qual o futuro desejável para a Saúde?

O setor, hoje, tem como foco o tratamento de patologias estabelecidas. O indivíduo paga por um plano para garantir o acesso a consultas, exames e internações em hospitais que recebem exatamente pela quantidade de serviços prestados. E esse plano só é usado quando aparecem os primeiros sintomas de uma doença que já se instalou, ou no máximo para fazer um checkup e procurar por ela. A iniciativa privada dá conta, hoje, de 20% da população brasileira. Os 80% restantes ficam a cargo do Sistema Público de Saúde (SUS). Mesmo com esses dois braços, há um déficit entre a demanda e a oferta de assistência - e a tendência é que é o gap aumente com o passar dos anos, uma vez que o envelhecimento populacional estimula o desenvolvimento das caras e complexas doenças crônicas.

Somado a isso, há um problema já muito conhecido e debatido: pela forma como o sistema foi forjado, se algo é bom para um player, é ruim para o outro. Enquanto a doença é sinônimo de faturamento para o hospital, é de custo para a operadora de Saúde. Como equilibrar os interesses entre esses agentes, absolutamente interdependentes, mas ao mesmo tempo com objetivos tão distintos? E o que fazer com o indivíduo - que ora é visto como paciente, ora como beneficiário, mas dificilmente como pessoa - no meio de tantas metas apartadas? A quem o sistema serve, afinal?

E é sobre essa insustentável mentalidade, cheia de antigos questionamentos, que se constroem os modelos de gestão das organizações. Nesse modelo, a perenidade dos negócios é nada mais do que uma utopia.

A tecnologia permite uma transformação exponencial, mas não adianta utilizá-la dentro do modelo atual. É preciso recriar o setor do zero, a partir de ferramentas como inteligência artificial, internet das coisas (IoT, da sigla em inglês), aprendizado da máquina, dispositivos vestíveis e outras inovações que servirão de base para um modelo de gestão com foco na saúde. Combinado ao mapeamento genético e outras tecnologias da medicina moderna, essas ferramentas têm um alcance poderoso para elevar a qualidade de vida dos seres humanos. Mas, para que funcionem, precisam de uma mudança de mentalidade que permitirá a construção do modelo que deixará a doença de lado.

A Saúde precisa voltar seu olhar para o paciente.

A Saúde precisa resgatar seu propósito inicial: o de cuidar da vida.

A Saúde precisa do “seu iPhone”.

A Saúde precisa construir seu futuro desejável. Nós precisamos.


Luciano Luis Mantelli

Founder & Hacker na FOURGE

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