Nas sexta-feiras, sons de alívio são propagados pelas bocas da maioria dos empregados que conhecemos. Nossos amigos, familiares, vizinhos. Nós mesmos. Toda sexta-feira é o #sextou.
Chega domingo. O programa global que apresenta boas - ou nem tanto - reportagens e que anuncia o final do fim-de-semana chega. Agora o som que emitimos é outro. Dessa vez, é o de reclamação pela segunda-feira que se segue.
E tá tudo bem reclamar ou agradecer pelo domingo ou pela sexta. O problema é se essa for a única felicidade encontrada na semana do indivíduo.
Estamos vivendo em um momento de intensa conexão entre a nossa vida pessoal e profissional, mas insistimos em separar tudo. Insistimos em dizer que “não levamos trabalho para casa”. Mas e a doença do filho, não é levada para a reunião de planejamento orçamentário? E o IPVA que não pode ser parcelado em mais vezes, não impacta no ânimo para um bom-dia ao colega do lado? E, ainda, o elogio do chefe sobre a entrega não exige um compartilhamento de alegria com a família?
Tudo está conectado e a gente precisa aceitar isso.
A vida profissional até pode estar distante da vida pessoal, mas em termos de propósito. Pode ser que o que se faz hoje não responda em nada ao que o nosso histórico, nossas aspirações e desejos anseiam. Dessa forma, estamos, de fato, separando o que vivemos a partir das 18 horas do que vivemos entre às 8 e às 17:59. Mas o que acontece quando o essas necessidades não são respondidas é o simples “deixar-de-lado” o seu propósito. Não respeitamos a nossa história e optamos por um caminho que, para muitos, foi o único possível de optar.
E o detalhe é que aqui não falo pela maioria de brasileiros que não têm oportunidade de encontrar seu propósito, nem mesmo de encontrar um lugar que responda a ele. Talvez a gente nem consiga chegar com esse texto nessas pessoas ainda, mas isso é um ponto para uma conversa futura.
Nesse nosso ambiente de privilégio, podemos discutir sobre nossos erros e acertos que nos afastam ou aproximam do encontro de propósitos.
O nosso propósito é uma resposta, como já dito, a diversos aspectos da nossa vida. Nossos valores, nossa história, nossa visão de mundo (que é apoiada na nossa história). E ele é mutável. A cada instante talvez algum detalhe dele pode ser repensado. De qualquer modo, nosso propósito é o que nos guia em um caminho de felicidade.
Ainda, a empresa que trabalhamos também possui o seu propósito. Ela existe para alguma coisa e porque alguma coisa precisa acontecer. Existe algum motivo de ser. Com o tempo, isso também pode se mutar e se reencontrar, mas não quer dizer que não exista.
Se entendemos que nossos propósito é mutável, entendemos que felicidade - ou a infelicidade - não é permanente.
Em um momento, podemos estar extasiantemente felizes com o nosso ambiente de trabalho que queremos ficar imersos nele o tempo todo, a ponto de que a vida comercial de um funcionário, por exemplo, ultrapassa os limites dos ponteiros do relógio e segue na mesa do bar; ou, ainda, em uma reunião de negócios estarmos muito preocupados em entender as novidades do outro negócio do outro lado da mesa ao mesmo tempo que queremos vender nosso produto. Porém, em outro momento, podemos estar completamente cansados de falar do nosso negócio ou totalmente entediados com o que se passa com a outra empresa.
Tudo é mutável.
Já que tudo é mutável, entra aqui o papel do líder.
A liderança precisa entender essa transcendência. Precisa ver que as pessoas precisam aproximar seu propósito pessoal do da sua empresa para buscarem uma felicidade mais genuína. E essa aproximação não quer dizer que quem tem como propósito “registrar os momentos mais felizes da vida” precise trabalhar em um estúdio de fotografia. Isso quer dizer que existem elementos que podem ser contemplados.
A liderança tem papel fundamental em estimular a descoberta desse caminho de felicidade pelo colaborador. Ela precisa provocar. Ela precisa mostrar que existem caminhos diferentes. E se a sua empresa não for o caminho tá tudo bem.
Sim, tá tudo bem.
O líder não tem que somente facilitar as reuniões de sprint, ele precisa facilitar a conciliação da vida. Ele precisa entender as minúcias das falas do dia-a-dia e trazer para a conversa. É momento de questionar muito mais do que a entrega atrasada.
A liderança está assumindo, cada vez mais, um papel de aproximar propósitos. Questionar e ser questionada. Orientar e se preocupar. Parece tão óbvio, mas é tão mais complexo que exigiria uma série de textos sobre.
Sendo assim, entendo que as lideranças precisam também entender o seu papel no mundo.
Não é tarefa fácil se preocupar genuinamente com o outro. Mas muito mais difícil é ter certeza do seu.
Pelo o que a liderança quer ser lembrada no mundo? O que faz sentido pra ela?
Ela também precisa de ajuda.
É momento de repensar. Se preocupar. Ter integralidade na nossa vida.
E que, com o tempo, tenhamos mais felicidade genuína despertada nas pessoas.
Texto por Felipe Becker.
#ambiente
#treinarequipe
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