Até os anos 1990, ela era sinônimo de pioneirismo, inovação, progresso e podia ser facilmente associada ao conceito de poder fosse ele político ou econômico. Seu uso era limitado a grandes e poderosas corporações que tinham recursos suficientes para bancar tanto seu alto custo de desenvolvimento quanto de utilização. Com o passar do tempo, porém, tornou-se imprescindível incorporar a tecnologia aos negócios, independente do porte ou ramo de atuação. Tê-la ou não era fator determinante para a sobrevivência de uma empresa diante da competição crescente, sobretudo, a partir da globalização e da consolidação da internet como plataforma para negócios audaciosos, disruptivos e sem fronteiras.
Assim, uma nova geração, a dos nerds, ganhou evidência e projeção mundiais na mesma proporção que encheu os bolsos de dólares com a sacada das pontocom. Por trás desta novidade, lá estava a camaleônica tecnologia mudando de papel no universo business e tornando possível o surgimento de um novo eldorado que, poucos anos depois, provocaria verdadeiro trauma social com o estouro da bolha dos negócios digitais. Mas isso é tema para outro artigo. Fato é que essa transição - e até mesmo a desconfiança surgida logo após o estouro da bolha - levou à compreensão da tecnologia como meio. Se no princípio ela era o diferencial de uma organização, nesta fase passou a ser percebida como caminho para alcançar o Olimpo.
Para integrar o seleto grupo dos negócios bem-sucedidos, era primordial automatizar processos, otimizar recursos. As regras de negócio deveriam ser conduzidas para dentro da tecnologia e não mais ficar restritas ao intelecto das pessoas. As empresas de TI usaram e abusaram deste discurso como bengala para alavancar mercados. “Me diga o que precisa que eu entrego a você.” Essa lógica deu origem ao desenvolvimento de uma enxurrada de sistemas diferentes e de inovações feitas de tal forma que as empresas simplesmente não conseguiam conectá-las. Muito em função do entendimento da máxima que colocou a tecnologia no papel de meio.
Agora, porém, é preciso entender que essa perspectiva mudou. Na era pós- digital - o nome já deixa claro - a tecnologia é a base de um novo modelo de negócio. Ela reassume o protagonismo, mas de um jeito diferente.
Não mais no sentido da grandeza, ou mesmo apenas como sinônimo de sobrevivência. Ela é antes de tudo a condição fundamental para que uma organização consiga, de fato, inovar, encontrar atalhos e criar um novo modo de entregar valor. Mais que em qualquer tempo, as organizações precisam ser constantemente reinventadas, a partir de uma base digital que lhes permita utilizar toda tecnologia disponível, para simplificar processos e alcançar escala. Por isso, quanto mais digitalizáveis forem as pontas de um negócio, melhor.
Entender a tecnologia como base faz parte da nova forma de pensar a empresa que exige uma gestão diferente, uma forma de chegar ao cliente diferente, assim como um modo de comunicar diferente. Como muitas estruturas organizacionais engessadas e ultrapassadas repelem tecnologia, diversas empresas estão atraindo startups para dentro delas, a fim de absorver a inovação que não conseguem produzir. Isto porque a lógica da era pós-digital não está em replicar experiências bem-sucedidas, mas em encontrar formas inovadoras de fazer algo que ninguém ainda pensou.
Nesta nova dinâmica, a ideia de monopólio é percebida pelo viés do valor que a novidade gera, pelo protagonismo, pelo impacto que provoca, levando também à desconstrução do conceito de globalização.
Quer ter chances reais de estar com uma organização forte no futuro?
Recontrate o papel da tecnologia. Pense o seu negócio com base digital. Se fosse montá-lo agora, com o mercado do jeito que está, como utilizaria a tecnologia? Parece um exercício bobo, mas a verdade é que não nos fazemos essa pergunta com a frequência necessária.
Tudo o que precisamos agora é dar conta de que a tecnologia disponível é muito mais poderosa que a tecnologia aplicada aos negócios.
Luciano Luis Mantelli
Founder & Hacker na FOURGE #gestaodainformacao #futurodonegocio #modelodenegocio
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