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Se as pessoas não são todas iguais, o modelo de saúde também não pode ser

Personalização do cuidado permite tratar cada uma como são: pessoas com características físicas, culturais, mentais e sociais das mais diversas


Não faz muito tempo te fizemos refletir por aqui sobre qual é o modelo de saúde dos seus sonhos[1] . Um dos caminhos mais certeiros na construção desse futuro desejável da saúde é apostar na prevenção e no autocuidado.


Tri legal, né? Mas dá para fazer isso com o modelo de saúde que nós temos atualmente?


Pra responder essa pergunta, vamos olhar para a forma como a medicina funciona no Brasil a partir de uma paciente hipotética chamado Maria. A Maria chega ao pronto-socorro do hospital público mais próximo da sua residência com sintomas como febre, vômito e diarreia. Ela relata seus sintomas para a médica plantonista, que questiona sobre os alimentos que Maria consumiu e descobre que ela comeu um salgado na rua, em um lugar não tão confiável. Bingo! É uma intoxicação alimentar. Maria toma soro e medicamentos e é liberada para ir embora para casa.

Pode parecer que está tudo certo com esse tipo de atendimento. E até está, do ponto de vista atual do modelo de saúde, que é tratar uma doença já estabelecida.


Mas o que faltou aqui para que a Maria se recupere e também mantenha sua saúde?


Faltou olhar para o fato de que Maria mora numa comunidade na qual a infraestrutura de saneamento é precária. Ela não tem acesso à água e esgoto tratado, então, ferve a água que sai da ligação irregular da sua torneira e despeja os dejetos diretamente no córrego mais próximo. Maria estará sempre sujeita a novos casos de intoxicação alimentar porque suas condições sociais dificultam o autocuidado.


O modelo de saúde brasileiro, de forma geral, leva pouco em consideração as características mentais, culturais e sociais das pessoas. A medicina costuma trabalhar com evidências baseadas em estudos científicos e, dessa maneira, novos métodos de diagnóstico e tratamentos para os variados problemas de saúde são incorporados à literatura médica quase diariamente. Porém, se pensarmos que muitos estudos científicos estão sujeitos a questões arraigadas na nossa sociedade, como o racismo, por exemplo, já dá pra imaginar porque colocar todo mundo dentro de uma mesma caixinha não é uma boa.


Com o avanço da ciência e, especialmente, da engenharia genética - ganha destaque a medicina personalizada. Com ela, há uma mudança de paradigma: por meio da análise da genética da pessoa paciente, é possível identificar, prevenir e tratar doenças de acordo com as particularidades do organismo de cada uma. Com os avanços tecnológicos, a pesquisa genética se tornou mais acessível e barata, sendo disponibilizada cada vez mais em laboratórios particulares, inclusive aqui no Brasil. Somos, inclusive, um dos dos cinco países da América Latina elencados no nível mais desenvolvido de evolução da medicina personalizada, de acordo com um estudo de 2020 realizado pela The Economist Intelligence Unit com patrocínio da Roche Foundation Medicine. Um dos problemas é que, mundialmente, o maior progresso da medicina personalizada até agora está na oncologia e no campo das doenças raras. Ou seja, os benefícios não chegam para toda população.


Porém, digamos que chegassem. Bastaria eu ter acesso ao meu DNA para que o modelo de saúde impessoal desse lugar a um mais individual?


A resposta é não. Embora a genética possa determinar muitos aspectos de nossa saúde, também somos fruto do ambiente em que vivemos, como é o caso da nossa amiga fictícia do exemplo acima. E por vivermos em um país de dimensões continentais, com uma diversidade de povos, etnias, culturas e condições sociais enormes, dá pra imaginar o quanto esses aspectos influenciam a nossa qualidade de vida.


Além disso, falta ainda um fator fundamental para a real personalização do modelo de saúde: avaliar pacientes de forma holística, incluindo aí também aspectos mentais. Afinal, muitas doenças hoje em dia são causadas - ou agravadas - por condições como estresse, ansiedade, depressão, insônia, burnout, entre outras.


A médica precisa, portanto, ouvir ativamente as pessoas, questionando aspectos que vão muito além dos sintomas de uma doença específica. E as pessoas precisam colaborar com essas informações, lembrando-se sempre que a sua saúde envolve múltiplos fatores.


Percebe como, no fim das contas, o modelo de saúde ativo, que conta com a participação tanto da organização quanto da pessoa assistida por ela, é o modelo que tem mais chances de nos entregar a qualidade de vida que a gente busca?


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Descrição da imagem: card único em tons de vermelho e azul, com recortes de uma mala com adesivo de frágil sendo carregada cuidadosamente por mãos com luvas, trazendo a frase “Personalizar o cuidado é preciso”.

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