Quando foi que inovação virou sinônimo de tecnologia se, pra criar algo, precisamos de habilidades e capacidades que são de gente?
Por Luciano Mantelli*
Em uma pesquisa rápida sobre a palavra inovação, o Dicionário Online de Português indica o seguinte significado: "novidade; aquilo que é novo; o que apareceu recentemente". A origem da palavra, como muitas da língua portuguesa, está no latim “innovatio; innovationis” (derivado do verbo “inovare”), que significa renovação, mudança, ou seja, o ato de introduzir novidades ou mudanças em algo.
Desde quando, então, a palavra inovação virou sinônimo de tecnologia?
Aposto que quando tu ouve falar em inovar, logo pensa em alguma máquina, um sistema de gestão, um software, um bot, um robô, uma inteligência artificial. A lista é longa. E é claro que todas essas tecnologias também podem ser chamadas de inovação. Aliás, a tecnologia tem sido, até então, a principal inspiradora de inovações, já que a partir do momento em que se criam tecnologias, elas nos inspiram a inovar, também, em outras frentes.
Mas inovar, no sentido puro da palavra, é um ato essencialmente humano.
Por mais que o resultado da inovação seja uma tecnologia, a inovação em si não depende de tecnologias, mas sim do ser humano que a cria.
Afinal, é possível que uma máquina crie algo novo?
Ao menos no mundo em que vivemos hoje, a resposta (ainda) é não. Para inventar algo, é fundamental usar algumas habilidades que listo aqui:
Pensamento crítico;
Criatividade;
Ideias fora da caixinha;
Empatia (o que te possibilita ver a dor do outro e buscar soluções pra ela);
Abertura para o risco;
Resiliência para se recuperar de eventuais erros.
Tu que me lê agora pode, inclusive, completar essa lista nos comentários. Mas, independentemente de quantas habilidades a gente conseguir citar, elas vão ser sempre capacidades humanas.
E não é só pra criar o novo que é preciso ser gente.
Para que a inovação deixe o plano das ideias e seja capaz de se transformar em algo real, palpável, em uma solução para um problema real da nossa sociedade, é crucial também que haja um ser humano (ou vários) capaz de elaborar um plano, seguir um método, um passo a passo com prazos estabelecidos e metas a serem cumpridas.
Ou seja, somente uma ideia nova não basta: para que ela se transforme em realidade, a capacidade de organização, mais uma vez uma habilidade humana, é o diferencial. Já parou para pensar que, por conta da falta dela, muitas ideias brilhantes não saem do papel aí mesmo no teu negócio? Isso acontece justamente porque não basta reunir a galera criativa numa salinha, dar post its coloridos pra todo mundo e deixar as ideias fluírem. É necessário, também, que haja alguém ali capaz de reverter tudo aquilo que for dito em um plano prático, com estratégia clara e uma trajetória concisa, possível de ser seguida, mais uma vez, por seres humanos.
Portanto, não importa muito qual tecnologia tu vai decidir usar quando pensar a inovação aí no teu negócio. É claro que ela vai estar lá, ou várias delas, porque nós vivemos num mundo digital. Mas, sem as pessoas habitando esse mundo, interagindo nele e apoiando umas às outras para construir um futuro desejável para si mesmas, eu arrisco dizer que pouco vamos criar o novo.
Então, tudo será só uma repetição - ruim - do que já conhecemos.
*Luciano Luis Mantelli nasceu no berço da agricultura familiar do Rio Grande do Sul, é pai, esposo, multiempreendedor e hacker. Atua em três frentes de negócio: a FOURGE, onde hackeia modelos de gestão, a Zhero, especializada em colocar a ciência de dados no centro dos negócios, e a Yellow EDU, com foco em educar crianças para melhorar o mundo.
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Descrição da imagem: foto mostra uma folha de papel com palavras escritas a mão e post its coloridos, uma caneta e, ao fundo aparecem, desfocadas, mãos de pessoas. A imagem ainda traz a frase "Inovar é humano".
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